L E P R A
A poesia tão igual a uma lepra!
. . . . . . . . . . . .
E os poetas na leprosaria
vão vivendo
uns com os outros,
inspeccionando as chagas
uns dos outros.
Jorge de Sena
in «Perseguição», Ed. Cadernos de Poesia, 1942
L E P R A
A poesia tão igual a uma lepra!
. . . . . . . . . . . .
E os poetas na leprosaria
vão vivendo
uns com os outros,
inspeccionando as chagas
uns dos outros.
Jorge de Sena
in «Perseguição», Ed. Cadernos de Poesia, 1942
O MAR
Ontem enquanto masturbavas o mar e enlouquecias as ondas. Eu esperava as aromáticas e meigas imagens do mal:
o mar
amar.
Sara M. C. Borges
in «biópsia irregular», ed. Eufeme, 2019
Gregor transformou-se em barata gigante.
Eu não: fiz-me aranhiço,
tão leve que uma leve brisa o faz
oscilar no seu fio de baba lisa.
Até que, contra a lei da natureza,
creio que tenho peso negativo,
e me elevo no ar se me não prendo
ao canto mais escuro desta ilha.
Quando descer à teia derradeira
não se verá no mundo alteração, ou só
talvez alguma mosca mais contente.
Em noites de luar, na alta esquina,
ficará a brilhar, mas sem ser vista,
a estrela que tracei como armadilha.
António Franco Alexandre
in «Aracne», ed. Assírio & Alvim, 2004.
O NAVEGADOR
Plena, a cidade
navega o dia. Ao lado,
o mar em que verte,
Passa lentamente,
à sombra, imposta,
do seu meridiano.
Só um vidro faísca:
há séculos emite
sinais indecifráveis.
Sebastião Alba
in «Todas as noites me despeço»,
ed. Opera Omnia, Setembro de 2020